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Matéria-prima de papelão é desafio para o setor em 2022

Um dos indicadores de aquecimento ou arrefecimento da economia é a indústria de embalagens. A caixa de papelão é considerada um termômetro que antecede o que vai ser produzido. Em 2021, a demanda nacional por embalagens cresceu mas, em parte, não foi atendida, por falta de um insumo fundamental: o papel.

Entre 2019 e 2020, a produção de embalagens teve queda de 35% em Minas Gerais, que responde por 12% a 15% do mercado nacional. Com a pandemia, muitas fábricas desaceleraram suas operações, algumas fecharam e várias enfrentaram uma dificuldade concreta: falta de matéria-prima.

Cerca de 75% das embalagens de papelão ondulado são oriundas da reciclagem – Minas é um dos três principais recicladores do material, que é utilizado em caixas de embalagens para transporte de produtos.

“Os fabricantes de caixas de papelão ondulado no Estado utilizam mais de 85% de papel reciclado e, com o fechamento do comércio, os catadores não tiveram o que recolher”, conta o presidente do Sindicato das Indústria de Celulose, Papel e Papelão no Estado de Minas Gerais (Sinpapel), Antônio Baggio, que dirige a entidade há 19 anos.

Um outro segmento, o de sacos de papel, teve ainda mais dificuldades e por mais tempo. Os fabricantes de sacos e sacolas de papel no Estado utilizam 99% de papel kraft virgem produzido fora do Estado – e este sumiu do mercado. “A demanda mundial por embalagens de delivery no auge da pandemia e a valorização do dólar direcionaram praticamente toda a produção para o mercado externo”, revela Baggio.

Segundo o dirigente, a produção brasileira de papel kraft é “a conta do chá”, ou seja, é exatamente o que o mercado interno consome. Com o mundo francamente comprador, as empresas fabricantes de papel, a exemplo de outros setores da economia, optaram por exportar.

A quebra na cadeia produtiva provocada pelas dificuldades de fornecimento e engrossada pela queda na produção industrial brasileira como um todo, fez o setor de embalagens em Minas amargar a redução de um terço nas encomendas entre 2019 e 2020.

Um panorama que começou a se normalizar em outubro do ano passado, quando algumas indústrias de papel aumentaram a produção ou deixaram de exportar. E, com a suspensão dos lockdowns, os catadores voltaram a oferecer papelão para a reciclagem. “Mas o fornecimento não chegou ainda aos níveis pré-pandemia”, ressalta Baggio.

Da mesma maneira que a produção de embalagens, que cresceu mês a mês, mas partindo de uma base muito baixa. Baggio calcula que a recuperação, entre 2020 e 2021, foi de 25%. “Recuperou, mas não cresceu. A produção só está se igualando a 2019 agora”, observa.

De acordo com Baggio, em 2022 o grande desafio do setor, que reúne 326 empresas em Minas, continua sendo a obtenção de matéria-prima, além da redução de custos que têm contribuído para sua perda de competitividade, como os exigidos pela pandemia.

“A perspectiva é boa, vai depender da definição do cenário político e do próprio contexto da Covid. Aí a indústria volta a produzir e a crescer, mesmo enfrentando juros mais altos e inadimplência”, acredita o presidente do Sinpapel.

No chão da fábrica

O Sinpapel reúne 326 empresas no Estado, sendo que 50 delas respondem por 97% do faturamento do setor no Estado. São empresas grandes do setor de celulose, como a Cenibra. Ao todo, a atividade ocupa 15 mil funcionários diretos

Na Casa Sol Embalagens, empresa com 39 anos de mercado, Alexandre Gonçalves é fabricante de sacarias de papel para a panificação. Fabrica entre outros itens mais tradicionais, o saco delivery, de fundo quadrado que fica em pé. Ou seja, seu produto embala o pão essencial de cada dia.

Mesmo assim, em 2020, a empresa teve uma redução de 2,54% no volume produzido.  “Só em abril, tivemos um recuo de 40%”, lembra o empresário que, em 2021, viu sua produção aumentar cerca de 12%. “A demanda está aquecida, principalmente no mercado de delivery com gramaturas acima de 60 g/m2. Mas ainda existem rupturas no fornecimento”, observa.

Para Gonçalves, os principais desafios no ano passado foram o aumento abusivo dos insumos e a consequente dificuldade de manter o cliente. Para 2022, porém, ele conta com um crescimento de 15% no volume produzido.

Ele não pretende fazer investimentos, em função, segundo ele, da dificuldade de crédito. “Os pequenos e médios industriais não têm acesso fácil. No período crítico da pandemia, o governo federal fez muito; mas agora o foco noutras questões está atrapalhando o crescimento das indústrias”, completa o empresário.

Antônio Borges, da Fideli Parma, lembra que a oferta de matéria-prima só se normalizou em setembro do ano passado. Em junho e julho, os pedidos de embalagens de pizza, que fabrica há 22 anos, caíram em cerca de 40%.

Ele observa que a demanda por delivery – e por suas embalagens – aumentou muito no período em que os restaurantes estavam fechados. Mas após a abertura, ela caiu para abaixo do normal. “A impressão que tenho é que as pessoas ficaram cansadas de comer pizzas em casa e preferiram ir à pizzaria ao invés de pedir”, explica o empresário.

A empresa demitiu 20% de seus 250 funcionários e não voltou ainda a contratar. “No fechamento do ano, o faturamento aumentou cerca de 20%, mas a quantidade de itens vendidos foi menor”, revela Borges.

Ele relata que a oferta de insumos para produção no mercado interno está normal, mas os importados ainda faltam e estão mais caros. “O principal desafio de 2021 foi nos adaptarmos às condições de mercado, que mudavam com muita rapidez. Para 2022, acredito que até março a demanda vai continuar como está agora, estabilizada nos níveis do final do ano. De abril para frente, só Deus sabe”, afirma.

Matéria de Bianca Alves em Diário do Comércio.